quarta-feira, 20 de agosto de 2014

PARA SEMPRE: LEMBRANDO O PROF. SILVA LEAL E O GENERAL PIRES VELOSO




 Aqueles que passam por nós, não seguem mais sós. Deixam um pouco de si;
levam um pouco de nós



Um dia um, no seguinte outro, deixaram o nosso convívio, neste agosto sensaborão, dois homens que viveram a liberdade como poucos nos tempos recentes do nosso país e foram, para muitos de nós, símbolos e fatores de esperança num mundo melhor. António da Silva Leal e António Pires Veloso não passaram em branca nuvem, pelo que chamamos a “vida”, antes sentiram o frio da política e sofreram da sua maldade. Cada qual a seu jeito, foram, porém, heróis do Portugal que renasceu em Abril de 1974 e hoje tão desfigurado, irreconhecível.

Aqueles que passam por nós, não seguem mais sós. Deixam um pouco de si; levam um pouco de nós (ST. Exupéry).

António da Silva Leal, o Prof. Silva Leal, antecedeu-me na presidência da Comissão Política Distrital do Porto do P.S.D., nos anos 1980. Não foi em vão o nosso encontro de tanto que aprendi com esse grande Senhor. Nessa altura, a vida político-partidária vivia do carisma de algumas pessoas e o PPD, então, sem o seu prestígio – como pessoa, intelectual e universitário – não teria talvez singrado facilmente na atormentada situação política e social que se vivia. O seu prestígio, ao lado, decerto, de outros vultos seminais da social democracia.

Nesse tempo o clientelismo político ainda não havia triunfado e a política partidária era feita com paixão, com valores e muita fé em Portugal. Nela estavam os melhores de nós todos, desinteressados de prebendas, sem interesses nepóticos, e sem necessidade de ir por aí para sobreviver ou fazer carreira. O carreirismo político não era, então, na verdade, o motivo e o móbil da intervenção política e partidária e o Partido Social Democrata, esse, estava longe de ser uma banal instituição para criação de empregos. Era a busca da liberdade – e a sua consolidação face às ameaças totalitárias – tudo o que motivava homens como António Silva Leal. O poder possível, nessa altura, assentava na honra e na sabedoria e, aí, ele foi dos maiores.

Deixou-nos um pouco de si. Obrigado.

O Sr. General Pires Veloso inscreveu a sua vida no mesmo itinerário, a seu modo, como militar ilustre e corajoso. Há por aí muitos que têm medo de o lembrar, mas a História, decerto, se ocupará de o colocar entre aqueles que foram os garantes da democracia após o 25 de novembro de 1975. Além disso trazia sempre consigo a bondade e a ética militar sem que, por tanto, corresse o risco de querer moralizar a política.

O país que somos exige que sejamos capazes de organizar com justiça a nossa sociedade na possível utopia de um renascimento da portugalidade.

Partiram dois homens que foram pilares de um novo Portugal, livre, solidário, menos desigual. Ficou uma nação sem ambição, um Estado caótico, um povo com medo e sem esperança.

O mundo mudou muito em muito pouco tempo. Perdeu referências, trocou de valores, esqueceu o heroísmo dos que deram o melhor da sua vida à vida de todos os seus cidadãos sem nada reclamarem em troca.

Para dar um novo e decisivo alento à sofrida democracia deste tempo de modo, sobretudo, a que, nesse ideal, se possa lutar contra todos os poderes autoritários e a ganância que por aí pululam, seria bom voltar a olhar para os pais da democracia portuguesa, entre os quais estão, na minha singela opinião, em lugar de relevo, António Silva Leal e António Pires Veloso.

Que estejam na Luz.