Os bancos tornaram-se negócios e os negócios
tornaram-se bancos. Tudo parece começar a acabar neles, neste tempo em que
sabemos o preço de tudo, mas já não
temos consciência do valor de nada.
Estamos num
tempo de adaptações dolorosas que se diz serem inevitáveis. Num mundo submetido ao poder
apátrida das multinacionais e dominado pela alta finança e sua sobranceria.
A insegurança
quanto ao futuro, a falta de confiança nas instituições, a injustiça e a desigualdade
cada vez maiores, a fragilidade e precariedade do emprego, a rápida
obsolescência de quase tudo o que se aprende, a hipocrisia da moral como regra
da política, a balcanização e pulverização aceleradas do mapa geopolítico do
planeta são os nossos companheiros de viagem.
O que se passou
em Chipre, alegadamente imposto pela União Europeia e pelo Fundo Monetário
Internacional, anuncia invernos dramáticos em outros países. Aberta a “caixa de
Pandora”, ninguém poderá, com um mínimo de credibilidade, dizer que o mesmo não
se verificará de novo.
Os bancos andam
a brincar, há muito, com o fogo. O nosso dinheiro é a sua mais valia, com que,
depois, de resto, nos alienam e exploram. E não há regulação do sistema
bancário que resista quando o regulador é quem fixa as regras da regulação
através de subtis e peritos conúbios…
Ainda há pouco a
palavra mágica era “se queres dinheiro
vai ao …”. Hoje, o que a realidade evidencia é que quem lá foi anda com a
corda ao pescoço e com pouca expetativa de sobreviver.
A ideia de que
os bancos são entidades fiáveis, éticas, cumpridoras da lei, seguras, não
resiste à mais leve e superficial análise. Não é uma questão, aliás,
desconhecida entre nós. Os casos do BPN e do BPP, apesar do pouco que desses escândalos
se sabe! – evidenciam a opacidade do sistema financeiro que comanda o mundo e
tem filiais em Portugal.
Os bancos
tornaram-se negócios e os negócios tornaram-se bancos (cfr. Sofia Santos, A
Banca em Portugal e a Economia Verde, 2012, p. 117). Tudo parece começar a
acabar neles, neste tempo em que sabemos o preço de tudo, mas já não temos consciência
do valor de nada. Banqueiros, políticos e seus cúmplices são os donos das
nossas vidas levando-nos, atrelados, para onde bem entenderem, com um objetivo
único, que é o deles, de maximizar os lucros mesmo que para tal haja que
espezinhar a dignidade das pessoas e os mais elementares direitos humanos. Os
casos, bem conhecidos, de execuções por incumprimento de pagamentos de
empréstimos para compra de habitação – entre tantos outros – são a prova cabal
dessa posição.
Há que tomar
consciência de que a banca, em 2008-2013, mostrou, afinal, que só vive para si
própria e que como os eucaliptos, seca tudo à sua volta. A superioridade
negocial que ostenta face ao comum dos depositantes e clientes é um fator de
injustiça e expressão da servidão de quantos a ela têm de recorrer. O seu poder
absoluto, corrompe absolutamente.
Sei bem como
seria difícil viver numa economia sem um organizado sistema bancário. Mas, por
mim, não compraria um automóvel em segunda mão a muitos dos banqueiros que têm
estado em cena neste mundo que está de patas para o ar (Galeano).
Fique, porém,
uma palavra nova e de esperança neste horizonte, bancos orientados por valores
como alternativa ao atual sistema financeiro. Bancos que não visam a
maximização dos lucros, mas têm objetivos sociais e solidários. É o caso do
TRIODOS BANK e do CO-OPERATIVE BANK (ver obra citada, p. 93 ss.). Se a
sociedade civil acordar a tempo – o tempo chega sempre, mas às vezes não chega
a tempo – poderemos acabar, um dia, com as aves de rapina. Entretanto, caros
leitores, não hesitem em utilizar o livro de reclamações que os bancos têm de
disponibilizar. Na dúvida, não acredite na seriedade dos seus atos e contratos.
Indigne-se. Proteste.