quarta-feira, 4 de novembro de 2009

UMA NOVA ESPERANÇA


Num mundo em acelerada transformação, a primeira obrigação de todos os responsáveis políticos deveria ser a procura do sentido e da inteligibilidade do tempo actual.

Aí está o novo Governo, constituído nos limites e fronteiras que o sistema democrático em vigor permitiu.

Seja ou não o Governo do nosso contentamento, tem de ser tido como Governo para todos os portugueses, porque do seu sucesso ou insucesso todos sofreremos as consequências. E, como um dia disse Roosevelt, “Se fracassar, ao menos que fracasse ousando grandes feitos, de modo que a sua postura não seja nunca a dessas almas frias e tímidas que não conhecem nem a vitória nem a derrota.” Mudando o que é de mudar, julgo que deverá ser este o lema dos próximos governantes.

Advinha-se, porém, que o país vai estar em permanente estado de pré-campanha eleitoral nos tempos que aí vêm e que só por acaso serão tomadas medidas de fundo, alternativas às políticas actuais, nas áreas mais complexas da governação. Em tal contexto relevará, decerto, a política maquiavélica em desfavor da arte política fundada em pressupostos doutrinários e no seu aprofundamento. Ora, num mundo em acelerada transformação, a primeira obrigação de todos os responsáveis políticos deveria ser a procura do sentido e da inteligibilidade do tempo actual, articulando ética, política e economia no horizonte que é o nosso. Hoje, porém, ainda se desenvolve a actividade política (e partidária) segundo os cânones de antes da crise, usando-se ferramentas velhas e gastas, assentes em dogmas que já perderam sentido.

Ao contrário do que ainda é um pressuposto da generalidade dos eleitos, no Governo ou na Oposição, “o presente já não é algo que simplesmente se oferece ao nosso olhar, sem empenhamento teórico, interpretativo e antecipatório” (…) “O estudo da sociedade dá-nos hoje a imagem de um campo desestruturado e não a de um objecto iluminado pelo saber e cujos elementos se inserissem num todo coerente” (Daniel Innerarity, A sociedade invisível). Assim sendo, num mundo mais próximo do caos que da ordem e onde os riscos sistémicos se nos atravessam a todo o instante no caminho, é imperativo observar e interpretar, reflectir e estudar, antes de agir. Tudo o que, porém, a nossa classe política não faz e até desdenha.

É o tempo da utopia que urge, porém, viver-se com novo fulgor.

As ferramentas velhas do pensamento prevalecente já não têm futuro, e o futuro não divisa, ainda, as novas artes que o hão-de armar. O discurso sobre o novo – dos pressupostos ao possível – tem de ser tomado a sério para sobrevivermos à crise actual e para alicerçar as novas fronteiras do amanhã.

A pobreza intelectual tem-se acentuado na vida política, muitas vezes vista como mera forma de ganhar facilmente a vida. Entre nós não são as qualificações pessoais, nem o nível de competência, que contam para governar ou fazer oposição. Os partidos, na sua ânsia desmedida de poder a qualquer preço, proletarizaram o exercício do poder e entregaram-no à astúcia, ao nepotismo, à corrupção dos espíritos.

É desta crise que, antes de mais, temos de sair.

Urge, pois, afastar a continuação da falta de política em prol de um pensamento político novo e diferente adaptável aos novos tempos. E, obviamente, encontrar novos protagonistas do futuro. Se tal não for feito, continuaremos a dançar numa roda de velhos e velhacos.