quarta-feira, 21 de outubro de 2009

MIGRAÇÕES

Ponto essencial a enfrentar é o relacionado com o chamado “brain drain”, a fuga de cérebros formados no país e que o deixam em busca de condições de vida e de trabalho que aqui não encontram.


O nosso país foi recentemente considerado pelas Nações Unidas como um dos melhores a acolher imigrantes. No seu relatório sobre o Índice de Desenvolvimento Humano, revelado recentemente pela comunicação social, a ONU dá destaque às migrações e, entre vários elogios, aponta, também, para um claro aumento no número de imigrantes que virão trabalhar para Portugal. Ainda segundo a ONU, em 2005, 7,2 por cento da população em Portugal era imigrante, enviando para os países de origem remessas no valor de cerca de um milhão de euros.
A notícia merece destaque pelo seu profundo significado humanista num mundo de profundo egoísmo e individualismo crescente.

Há que ver as coisas da migração, porém, de outros sítios.

É que Portugal é, - como quase sempre o foi - também, um país de emigração e, aparentemente, o balanço, a vários títulos, é muito desfavorável ao nosso país.

Lembre-se, a propósito, que cerca de um terço dos portugueses vivem já no estrangeiro e que, só na Europa, segundo dados da OCDE, o número de imigrantes portugueses aumentou 53% entre 2000 e 2006. Entre estes emigrantes, muitos têm cursos superiores obtidos em Portugal e, outros, eram dos melhores entre nós. Há, decerto, também, muitos outros que foram levados, porém, por razões económicas e sociais ligadas até à sua subsistência, como será o caso da recente emigração para Espanha onde parte significativa trabalha em actividades menos qualificadas, como a construção civil, a agricultura ou em empregos modestos na área do turismo.
Voltando à emigração de trabalhadores com altas habilitações e qualificações – que é coisa que deveria seriamente preocupar as autoridades nacionais – há que sublinhar que tal facto é profundamente negativo para o país que evidencia, assim, nomeadamente, que não tem capacidade para manter entre portas esses profissionais, muitas vezes, decerto, por falta de dimensão para os ocupar nas suas capacidades e potencial.

Foi, porém, o país – a Escola e a Universidade – que os formou e, nisso, despendeu verbas relevantes dos impostos que todos pagamos. Formar, assim, trabalhadores qualificados para, depois, os deixar partir para enriquecerem outras economias que, aliás, nada custearam da sua formação, é uma atitude perdulária e dramática para o país.
Não tem sido tal, porém, preocupação dos nossos políticos enredados em questiúnculas menores a respeito das migrações. Na verdade tem sido afirmado, no âmbito da economia das migrações, sobretudo uma certa oposição à presença de imigrantes no nosso país. A ideia de que a imigração é uma das causas dos nossos problemas económicos e sociais tem sido adoptada, de facto, como mensagem política de certos políticos que denunciam, sem provas, que os imigrantes contribuem para o aumento do desemprego e para a redução dos salários dos portugueses, escamoteando, porém, o quanto temos beneficiado nomeadamente em termos de aumento de natalidade e, ainda, em contribuições para a segurança social, além dos mais.

Ponto essencial a enfrentar é, de todos os demais, o relacionado com o chamado “brain drain”, a fuga de cérebros formados no país e que o deixam em busca de condições de vida e de trabalho que aqui não encontram. É necessário tomar medidas políticas para amenizar, pelo menos, esta situação já que, num mundo globalizado, num país de liberdade e numa Europa sem fronteiras, tal fenómeno não se pode estancar por decreto.

Uma palavra final para fenómeno idêntico, mas vivenciado dentro de portas: a fuga de cérebros do Norte para Lisboa no contexto de farisaicas opções relacionadas com a gestão dos fundos comunitários. O tema é simples de explicar e envergonha-nos profundamente: é em Lisboa que são pagos os gestores dos programas da UE que visam desenvolver o Norte, nomeadamente, como região mais desfavorecida.

Vamos, então, todos para Lisboa.

E que o resto do país caia de podre, de velhos e de medíocres.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

POUPAR, INOVAR E INVESTIR


Muito vai ter que mudar – e profundamente – no próximo futuro com dramáticas consequências também sociais.

Cumpriram-se os actos da liturgia política eleitoral que um regime democrático tem por mínimos, mas, debaixo do tapete, para onde foram varridos por conveniências difusas, continuam os grandes problemas estruturais do país: um endividamento externo colossal; o desequilíbrio insano das contas públicas; o assustador desemprego que grassa entre a população; a fraquíssima produtividade da nossa economia; a recorrente falta de competitividade das nossas empresas no mundo global, e, ainda, outros males estruturais conexos, nomeadamente no sector da Justiça e da Educação.

Já ninguém dúvida de que a crise que atravessamos, também global e deveras profunda, foi deixando marcas de monta, irreversíveis, no tecido económico, social e laboral do país.

Poucos terão, porém, uma ideia estratégica clara sobre como aproveitar as consequências da crise para se prosseguir buscando novas oportunidades que, nestes contextos, sempre surgem. Mas urge, porém, procurar tais novas oportunidades, no que tudo vai um grande desafio à sociedade empresarial, à sociedade civil e, também, à comunidade científica do país.

Poupar, inovar e investir são palavras de ordem e imperativos categóricos depois de levantada a feira das vaidades eleitorais.

Está dito e redito por quem sabe que temos de apostar na economia do conhecimento num mundo global e seguindo uma estratégia sem fronteiras. É este, e não outro, o destino de um pequeno e periférico (semi-periférico, segundo outros) país, tolhido pela sua dívida externa, massacrando pelo desemprego e com uma dívida pública insustentável. E, como se tal não bastasse, corroído, também, pela corrupção, desleixado no empreendedorismo e, ainda, amordaçado pela burocracia.

Há, apesar de tudo, que afivelar no palco da tragédia uma forte vontade de vencer, pois de outro modo soçobraremos. E será tal vontade que há-de fazer a diferença entre os vencedores e os vencidos. Não haverá alternativa, porém, nos próximos – e longos – anos à redução, quantitativa e qualitativa, do nível de vida da generalidade dos cidadãos. Em vez de comer bife todos os dias, temos de nos preparar para comer dia-sim, dia-não, ou, até, menos amiúde…

A crise ainda apenas mostrou aos portugueses uma das suas facetas e, porventura a menos dolorosa, tirando o desemprego, muito atenuado, de resto, nas suas consequências pela panóplia generosa de prestações sociais que lhe servem de amortecedor.

Somos um país pobre, mas, pior que isso, um país que não quer, ou não sabe, trabalhar para se tornar rico. Um país de grandes injustiças político-geográficas e pouco solidário.

Não vai nesta alegação, porém, o pessimismo ressabiado de Medina Carreira, expresso no seu recente livro “Portugal, que futuro”. Se fosse, diria que, então, chegou o momento de apagar as luzes e fechar a porta.

Creio que Portugal tem viabilidade e que o Estado português está longe de ser um Estado falhado ao nível económico. Mas muito vai ter que mudar – e profundamente – no próximo futuro com dramáticas consequências também sociais.

E é neste contexto que, porventura mais do que o partido do governo, serão os da oposição que marcarão o nosso destino, por mais bizarra que pareça a ideia.

O papel do Estado será, então, fundamental, sendo certo que ninguém ignora, porém, as divergências que, nessa área, campeiam entre as diversas forças políticas. Ora é neste campo que se travará a batalha decisiva – o problema a afrontar não será, de facto, o do liberalismo político, mas o do liberalismo económico numa economia muito frágil para sobreviver num modelo liberal.

Precisamos de uma ideologia que venha conferir sentido aos sacrifícios que teremos de atravessar.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

OS NEGÓCIOS DA COMUNICAÇÃO SOCIAL

Estamos perante um negócio com características especiais e com valores
fundamentais que não podem ser ignorados em nome do lucro.



É indisfarçável que tem havido estratégias empresariais e político-partidárias a fazer o seu caminho dentro dos órgãos de comunicação social. E se tal até se pode compreender - e aceitar, também, que não fere, só por si, a liberdade de imprensa - já a questão muda de figura quando, com tais estratégias, ficam de rastos os mais elementares princípios éticos que devem reger, sempre, a comunicação social.

Abre-se aqui, porém, uma outra questão, bem complexa, e que diz respeito à definição desses princípios, sobretudo num tempo de crise como aquele que, hoje, no plano financeiro, afecta o sector e que, porventura, também põe em causa o “modelo de negócio” em que a comunicação social se tem alicerçado.
Veja-se a comunicação social como um quarto poder ou como um contrapoder, o certo é que ela não pode levitar, em caso algum, sobre uma indeclinável ética de responsabilidade a qual há-de ir muito para além das leis positivadas que regem os media e os direitos de personalidade, e outros, que lhe recortam as ambições ou os simples interesses. A televisão, a rádio e os jornais têm ainda – ou cada vez mais, (depende da perspectiva) – um poder extraordinário e omnipresente sobre o comum dos cidadãos afectando o seu pensamento, os argumentos em que apoiam as suas opiniões, as suas mais simples escolhas e a generalidade dos comportamentos sociais.
Temos por seguro que sem uma imprensa credível e independente não pode haver uma opinião pública democrática e uma sociedade civil esclarecida que lhe dê suporte. Se na política palaciana os valores morais e éticos não contam, como esclareceu Maquiavel, tal não pode valer nos media.
O principal objectivo dos órgãos de comunicação social não pode ser, pois, o lucro a qualquer preço, mas, sim, a garantia de que a informação prestada aos cidadãos é verdadeira, ainda que sujeita a diversos critérios interpretativos.

Estamos, na verdade, perante um negócio com características especiais e com valores fundamentais que não podem ser ignorados em nome do lucro.
Hoje, aposta-se, por vezes, tudo em busca de mais receitas, mas esse é um mau caminho para a comunicação social.

Joga-se tudo na influência para destruir uma pessoa ou uma ideia, mas por aí só vem ódio e vingança.

A comunicação social precisa de se renovar na ética democrática e nisto vai um grito de alerta para que a influência dos grupos económicos e financeiros a não controlem de vez.

Episódios recentes evidenciam quanto o controlo da comunicação social pode reduzir à insignificância qualquer cidadão, qualquer grupo ou instituição. Os casos do telejornal de Moura Guedes na TVI e o da envolvente às pretensas escutas ilícitas na Presidência da República, deveriam desencadear na sociedade um profundo e amplo debate sobre a comunicação social que temos, sobre quem a controla e com que fins.

A relação dos media com a política e a influência dos interesses económicos e financeiros sobre os conteúdos dos órgãos de comunicação social são questões da maior relevância para o aprofundamento da democracia. Mas são, também, temas escaldantes de que todos, incluindo os jornalistas, procuram fugir lavando as mãos como Pilatos.

Até quando?