quarta-feira, 10 de setembro de 2008

A POLÍTICA DO GATO E DO RATO

O que se tem visto na política portuguesa recente, se não se estranha, não é auspicioso.

A política partidária muitas vezes cega os que a comandam ou interpretam e de tal forma que o interesse geral nem sempre é prosseguido como o deveria ser. Os exemplos abundam e, todos os dias, crescem à vista desarmada como os cogumelos.
Ora o jogo do rato e do gato em que os do governo e os da oposição se enrolam sem cessar não tem, necessariamente, de acabar na morte do rato, ou na depressão do gato. O que muitas vezes faz falta é qualidade (estudo, reflexão, preparação) para o exercício de funções políticas e partidárias. O que se sente cada vez mais, de resto, tanto quanto a falta de sobriedade, de equilíbrio e de dignidade.
Será lógico que os mesmos que defendem o silêncio nas suas hostes e, em particular, a do seu líder, exijam, aos outros, que se exponham permanentemente na praça pública para além do necessário e conveniente?
Será aceitável que no meio de uma pretensa crise de autoridade do Estado se exija ainda mais fragilidade deste através do pedido, sem causa objectiva, da cabeça de um ministro a quem compete exercê-la, sem sequer apresentar alternativas políticas para a crise?
Será compreensível que um mesmo partido esteja, simultaneamente, representado em pólos opostos da política norte-americana (no caso na Convenção dos Democratas e na dos Republicanos) reivindicando, num caso e noutro “estar junto dos seus”?
Não é. Mas como cada vez que faltam a qualidade e a doutrina só resta o recurso a argumentos “enlatados” e a chichés “rascas”, o que se tem visto na política portuguesa recente, se não se estranha, não é auspicioso. A crítica que não se fundamenta e vem, ademais, desprovida da apresentação de soluções alternativas é como um fogo fátuo.
Sem partidos políticos activos, organizados e eficazes – no governo e na oposição – a democracia ressente-se. É por isso que é com alarme que se vê o que acontece no PSD dos tempos mais recentes. Avulta nele, em cada dia mais, um partido morno, envelhecido, tornejando perigosamente para valores da direita raccionária, um partido dividido nos seus dirigentes e desorientado nas suas bases, que avança aos solavancos de uma estratégia que não tem.
A liderança do PSD está entregue, de facto, actualmente, a certos comentados políticos que tem lugar cativo em alguns canais da sofrível televisão que temos. É o que eles dizem, o que criticam e apoiam, que determina o perímetro das questões que se debatem entre os militantes e simpatizantes do partido e constitui, também, o argumentário simplório do cidadão comum.
Quem doutrina no PSD?
Para onde vai o PSD?
Estas questões – e muitas outras – têm de encontrar resposta em breve.
Há que chamar os seus militantes e dirigentes, que levitam no país nominal, até ao país real (Alexandre Herculano) para novas frentes de combate político determinadas pelo ideário que foi originalmente o seu e se foi perdendo por caminhos de um crescente e autista neoliberismo. A oposição tem uma grande responsabilidade na situação que atravessa o país sobretudo pelo pecado da omissão e pela negligência com que enfrenta os problemas do Estado e da sociedade, assim também contribuindo para agravar a claustrofobia asfixiante que, se alega, reina no país.
O silêncio cúmplice face ao futuro e a novas e diferentes políticas não pode ser vencido pela repetida crítica, tantas vezes infundada e meramente politiqueira, a tudo o que vem sendo feito neste país em mudança acelerada e, logo, em sofrimento acentuado. Urge vencer a orfandade ideológica em que o PSD está mergulhado como condição para melhorar os tempos que aí vêm e aos quais é necessário trazer esperança. Os cidadãos merecem tal esforço e o governo actual também precisa de uma melhor oposição.
Ainda será possível? Ou vai continuar o jogo do gato e do rato que só interessa a pacóvios?

E-mail: antoniovilar@antoniovilar.pt